XANANA GUSMÃO E JORGE SAMPAIO REUNIDOS PELA DEMOCRACIA E RESILIÊNCIA, EM LISBOA
19 de Outubro de 2018, texto de Ana Filipa Lacerda com fotos de Gustavo L. Pereira
O Presidente de Timor-Leste entre 2002 e 2007, Xanana Gusmão, e o Presidente de Portugal entre 1996 e 2006, Jorge Sampaio, voltam a estar lado a lado para falar da paz essencial à vida em democracia e da democracia como indispensável à paz. Na manhã de 19 de outubro, num debate organizado pelo Clube de Lisboa e pelo G7+ na sua sede, em Lisboa, com moderação da jornalista Ana Lourenço sobre democracia e resiliência, os companheiros de luta vieram recordar-nos, porém, que nenhuma liberdade está garantida. Estará na mão de todos dar razões de ser à democracia enquanto espaço para todos podermos ser. A educação foi a palavra-chave deixada enquanto território de esperança que, trabalhado em conjunto, possa tornar-se fértil para a edificação de valores comuns onde a diversidade de cada um tenha lugar.
Perante estudos que revelam que a maioria dos adolescentes e jovens portugueses não se reveem nos partidos, votam menos do que há uns anos e que também são pouco participativos socialmente, Jorge Sampaio dá-nos um ingrediente para fortalecer as bases democráticas: cidadania ativa. O fermento que pode levar as instituições democráticas representativas a abrirem-se: “abrir uma sociedade fechada é mais difícil do que fechar uma sociedade”, alerta. Um fermento que cresce na aprendizagem, na integração daquilo que se aprende e no permanente diálogo entre aqueles que são os objetivos pessoais e da coletividade, pode, na sua opinião, regenerar os tecidos de uma democracia onde muitos não se reconhecem e muitos se afastam. Um exercício, no entanto, a praticar desde muito cedo, estimulado pela família e pelos diferentes meios educativos, mas que pode desembocar em muitos caminhos. É importante estar-se disponível “para as coisas mais modestas”, sublinha Xanana, diante das inúmeras possibilidades de participação cívica e política. Desde a preocupação com o bem-estar dos vizinhos, como exemplifica Sampaio, até à luta pelos direitos dos mais frágeis além-fronteiras. O direito, por exemplo, referido por Xanana, de as pessoas permanecerem nas suas terras e de nelas viverem em paz para que a sua mobilidade possa, assim, ser vivida como o direito que é e não como coerção. Para tal, há que vigiar os interesses dos países a uma escala global onde, para este líder timorense, há quem financie guerras e pareça por vezes sentir-se insultado “com quem promove a paz nos seus países”.
O 16º objetivo de desenvolvimento sustentável para 2030 almeja a paz, justiça e instituições eficazes. Neste sentido, tanto para Sampaio como para Xanana parece ser crucial pensar de forma crítica, onde para os problemas apontados se ajude a pensar em soluções. “No G7+ procurámos primeiro apontar os nossos erros para depois, pelo diálogo, avançar”, observa Xanana Gusmão enquanto Pessoa Eminente do G7+. Numa permanente troca de experiências, os 20 países que hoje constituem o grupo veem na sua fragilidade uma oportunidade para juntos, e com todas as competências que ter resiliência exige, apoiarem-se na edificação democrática. Uma estrutura que, atendendo sempre às especificidades de cada país, às constantes mudanças sociais e aos seus pilares fundamentais, o grupo acredita poder ainda ser alicerce e herança da paz e do desenvolvimento.
O debate promovido pelo Clube de Lisboa e pelo G7+, com o apoio do Instituto Marquês de Valle Flôr, terminou com o lançamento do livro Novas Fronteiras – Conciliação Histórica de Timor-Leste sobre as fronteiras marítimas de Timor-Leste, apresentado por Xanana Gusmão, na qualidade de chefe-de-equipa para as negociações.