Wrestling: CTW Killers leva “Pai Grande” a Tóquio, entre a Ajuda e a Alegria

WRESTLING
CTW Killers leva “Pai Grande” a Tóquio, entre a Ajuda e a Alegria

Filipa Lacerda (texto) e Gustavo Lopes Pereira (fotos)

A 17 de março o wrestling saltou do ringe para dar o melhor de si. “Raging” Claudia Bradstone e Killer Kelly afundaram na Academia Recreativa da Ajuda, em Lisboa, no desafio CTW Killers promovido pelo Centro de Treinos de Wrestling. O primeiro confronto entre estas duas grandes lutadoras, com formação em Portugal, que, com um ataque surpresa de um Anonymous à mistura, acabou por entregar a vitória a Killer Kelly. Com este duro golpe, Claudia viu a oportunidade de lutar pelo título do CTW em Tóquio passar para o “Pai Grande” Leo Rossi, enquanto vencedor do Combate Roleta Russa deste desafio.

Apercebendo-se do sucedido com a colega, uma Killer Kelly de tranças e fibra ainda protestou, mas o combate já estava por si ganho. Os deuses pareciam ter decidido e o público consentido. “Hoje perdi algo que queria bastante ganhar… era a oportunidade da minha vida ir ao Japão e lutar pelo título do CTW”, desabafa uma dolorida Claudia. “Hoje convinha-me ganhar… Nos outros dias, gosto de um bom desafio…”, prossegue, assumindo-se como, fundamentalmente, uma competidora. Das duras. É que o brilho nos olhos não deixa margem para equívocos. Tóquio não perde por esperar.

“Ainda não conhecem a nossa força”

Ainda há muito a ideia de que certos desportos não são para mulheres. Maria Sousa, 26 anos, jogou futebol e teve de ouvir muitas vezes “as mesmas bocas”: “as mulheres não foram feitas para isto… mas nós só temos de provar a nós próprias que isto não depende do género nem da capacidade física… cada um treina e faz o que gosta”. Claudia vai ainda mais longe. Para ela, os homens “ainda não conhecem a nossa força”. “Já lutei com muitos homens, porque de vez em quando não há competição cá em Portugal e vou lá fora, e a maior tareia que levei foi de mulheres”, afirma a lutadora que em novembro de 2018 conseguiu um try-out (treino de captação) na WWE (World Wrestling Entertainment), na Alemanha. “As pessoas acham que isto não magoa”, acrescenta Maria Sousa, fã de wrestling desde os quatro anos e também ex-praticante da modalidade, mas não deixa dúvidas: “o que se passa lá dentro pode ou não ser combinado, depende da companhia, mas magoar magoa… Com o tempo a pessoa habitua-se, mas há sempre aqueles golpes que magoam”.

No público, que desempenha um grande papel neste desporto espetáculo, há uma forte presença feminina. Desde as mais pequenas a torcerem aos gritos pelos seus favoritos às mais crescidas. Ana Paula Figueira, 53 anos, por exemplo, vai sempre com o marido partilhar interesses com o filho e a primeira vez que viu wrestling pensou: “onde é que eu me fui meter?” , mas assegura que na realidade nunca viram um problema, definindo esta modalidade como “um convívio salutar”.

Uma questão de generosidade

Talvez, neste ringue de personagens que disputam pela atenção do público, se esconda um grande tesouro para a inquietude que nos assalta a alma. Para Andy – que pega em todos os elementos que o caraterizam para construir o seu Andy Hendrix – “é mais importante divertirmo-nos do que ganhar”. Não quer que o “entendam mal”. Claro que “ganhar é um benefício também”, mas “no final do dia, sinto que nasci para fazer isto… para me divertir, para poder viver os meus golpes”, sorri.

Red Eagle não podia estar mais em sintonia. “Devemos ter a ambição de querer sempre mais, mas devemos moderar isso e perceber que na vida também temos de trabalhar em equipa. Tudo aqui é criado por uma equipa de jovens que fazem o espetáculo acontecer para as pessoas aqui em Portugal”, dá a ver, lá do alto da sua viagem, já que “ganhar ou perder faz parte da vida”. Ou do circo: “Aqui vês sobretudo isso, mais do que luta… vês pessoas bondosas dentro”, segreda Margarita Sharapova, 56 anos, que do circo saltou agilmente para o ringue de wrestling, ainda na União Soviética, e que há cinco anos reside no bairro da Ajuda. É que “isto é divertido… é muita alegria”, demonstra.

Sem vilões não há heróis

Tiago Milheiro, o Red Eagle que voa no ringue do wrestling desde os 12 anos, foi o fundador do CTW em 2009, com sede na Academia Recreativa da Ajuda, e promove o wrestling profissional em Portugal. Mas o que motivará esse voo de entrega total? “Tudo o que nós fazemos ali é a sério… as quedas…  tudo isso… mas acima de tudo é um espetáculo para entreter as multidões que estão a ver, para lhes dar um dia melhor”, diz. E, como espetáculo, é algo preparado mas sempre inesperado. “No wrestling há um argumento que nós seguimos para dar vida a uma história: os combates não são combinados como as pessoas pensam, mas sim o resultado dos combates”, prossegue esta águia da freguesia de Benfica, enquanto fala da magia que acontece “tal como no cinema”. Afinal, sabemos que os heróis não voam mas pagamos para vê-los voar e acabamos por influenciar o seu bater de asas.

“Atrai-me a história contada com o corpo, as luzes, as rivalidades, os golpes aplicados”, descreve Ricardo Macedo, 33 anos, que tem o wrestling como uma paixão de infância e que não podia deixar de vir ver “a Kelly que está lá fora” na WWE NXT UK, e “pelo sucesso que está a ter”.

O título do CTW em Tóquio – disputado entre “Pai Grande” Leo Rossi, da Margem Sul, e “Raging” Claudia Bradstone, de Queluz – ficou decidido no Combate da Roleta Russa do CTW Killers, numa série de dois encontros: o segundo da tarde, entre “Pai Grande” Leo Rossi e “Fantastic” Matt Fox, de Manchester, Inglaterra, e o quarto, entre “Raging” Claudia Bradstone e Killer Kelly, de Lisboa. O primeiro encontro viu o descontraído e aclamado “Superkid” Nelson Pereira, de Oeiras, derrotado pelo excêntrico Andy Hendrix, de Birmingham, Inglaterra. Já o  terceiro foi disputado entre o campeão europeu de luta livre Red Eagle, de Benfica, que, ao vencer Young Lion, o Desafiante de Belfast, Irlanda do Norte, completou 100 dias na liderança da modalidade.  

O CTW tem vindo a estabelecer parcerias com países como o Japão onde, por exemplo, os lutadores podem ficar com um visto de três meses para aí praticarem. “Parcerias feitas por promotores independentes, ou seja, pessoas que abrem uma companhia e que querem ajudar a realizar estes eventos de wrestling e a levar estes lutadores a fazerem aquilo de que mais gostam: dar um espetáculo às pessoas”, reitera Red Eagle, fitando as cerca de cem pessoas que vieram assistir à disputa e que ele acredita virem a ser “sempre mais”.

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