Últimos dias: a destruição do Parque Europa em Bissau

As pessoas caminham mais ou menos vagarosamente em redor do parque, indiferentes ao avanço das máquinas. Alguns param para ver o que está a acontecer. Vão comentando o andamento das obras, sem grandes certezas relativamente ao futuro do espaço. Apesar do fim anunciado, os desportistas não pararam de correr ou de treinar em diferentes pontos do recinto. Do parque infantil onde até há bem pouco tempo as crianças brincavam, apenas se mantém em pé um escorrega de metal, agora torcido e incapacitado. O café restaurante já não existe. Foi derrubado logo nos primeiros dias das obras, no final de dezembro. Ouço dizer que os arrendatários que exploravam o espaço tiveram 72 horas para abandonar o local. Nos bancos públicos que ainda não foram arrancados, casais jovens têm conversas intimas, grupos de amigos riem descontraidamente, homens solitários passam o tempo a olhar para o smartphone. São os últimos dias daquele que há cerca de cinco anos se tornou um dos poucos espaços públicos de lazer da capital bissau-guineense.

A notícia surgiu de forma inesperada. O Parque Europa – Lagoa de N’Batonha vai dar lugar a uma infraestrutura que compreende mesquita, escola, centro de saúde e zona comercial. O espaço tinha sido requalificado entre 2016 e 2018, numa parceria da Câmara Municipal de Bissau com a organização não governamental portuguesa Monte – ACE e com financiamento da União Europeia e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua de Portugal. No folheto de apresentação da obra, referia-se que o objetivo da requalificação era “a complementaridade entre o uso recreativo e a recuperação e conservação da zona húmida – a Lagoa de N’Batonha”. Ao que parece, a lagoa será agora soterrada.

A decisão da transformar o parque não tem sido encarada positivamente em alguns setores da sociedade guineense. Organizou-se uma vigília com a participação de organizações da sociedade civil, fez-se uma carta aberta e uma petição pública, declamou-se poesia no local. Mas o processo parece imparável, tendo o apoio do Presidente da República Umaro Sissoco Embaló. Não que o espaço fosse tudo o que poderia ser. À falta de manutenção, junta-se a sua utilização como parque de estacionamento de pesados, ladeando a rua principal, e o acumular de lixo e a utilização indiscriminada como sanitário, de dia ou de noite e em qualquer lugar do parque. Ainda assim, continua a ser usado como espaço de lazer pela população e é o pouso regular para uma miríade de animais. Desde os residentes, como os pássaros ou os crocodilos, ou os que vão ao parque em busca de alimentação, como vacas, porcos e abutres.

Texto e fotografia por Gustavo Lopes Pereira

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

%d bloggers gostam disto: